segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Concurso da PM que exige masculinidade é absurdo, dizem especialistas


A Polícia Militar do Paraná (PMPR) abriu um novo certame com 16 vagas para cadetes. Além de provas objetivas, os interessados serão submetidos a um teste psicológico onde será avaliada, dentre outras coisas, a masculinidade do candidato. O item, presente no anexo II do documento, exige um resultado igual ou acima de regular para capacidade de não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor. É exigido ainda que o candidato demonstre a competência de não se impressionar com cenas violentas e que possa suportar vulgaridades. 

Outros itens do teste psicológico também chamam atenção, como amabilidade e afago. Neste último, o candidato deve ter resultado menor ou igual a médio para necessidade de buscar apoio e proteção, e sobre o quanto deseja ser amado, orientado, perdoado e consolado. Além disso, será avaliada a necessidade de ser protegido de sentimentos de abandono, ansiedade, insegurança e desespero, que também deve ser igual ou inferior a médio. Serão medidas também características de instabilidade emocional, passividade, liberalismo, busca por novidades, interações sociais, afiliação, empatia, dominância e outras.

Para a psicanalista Thessa Guimarães, o termo masculinidade", igualado à capacidade de o indivíduo em não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades e não emocionar-se facilmente é uma evidência do discurso de machismo no Brasil. De fato, no jargão popular, masculinidade significa tudo isso. O problema é que essa correspondência entre masculinidade e frieza emocional é resultado de um processo histórico de subjetivação misógina, que ensina as meninas a cuidar e obedecer, e os meninos a dominar, agredir e exterminar, se preciso, comenta. 

Para a especialista, qualquer definição de masculinidade está comprometida com uma tomada de posição a respeito da opressão de homens contra mulheres. A definição pode ser de senso comum, científica, psicológica, antropológica, pouco importa. Se ela naturaliza características de opressão como masculinas e naturaliza características de subserviência como femininas, ela está a serviço do amplo retrocesso civilizatório no qual o golpe lançou o país, no qual a PM em todo o Brasil tem investido sem pudores, diz. 

A psicanalista afirma, também, que o erro da equipe técnica por trás desta avaliação psicológica é, através dessa correspondência, esconder um processo histórico através do qual o patriarcado segue oprimindo, explorando e matando mulheres. Pensa-se como natural a correspondência entre masculinidade e inclinação à violência, mas ela é histórica e precisa ser denunciada,diz.

O concurso 

São 16 vagas, sendo duas reservadas a candidatos afrodescendentes. Pode se candidatar quem tiver nível médio de formação escolar e no máximo 30 anos de idade. Os salários são de até R$ 9.544,44. Haverá provas objetivas, de compreensão e produção de textos, provas de habilidades específicas, investigação social, avaliação psicológica, exame de sanidade física, exame de capacidade física e o curso de formação.


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