sábado, 24 de fevereiro de 2018

Laços de sangue



Com um graveto, Kauã, de 6 anos, rabisca a terra entre túmulos de madeira, flores artificiais e embalagens de vela, enquanto dona Raimunda, de 76, e a filha Fátima, de 41, cantam incelências pela alma de Renato Maciel do Nascimento, de 22. É manhã de terça-feira na ala 32 do Cemitério Parque Tarumã, Zona Oeste de Manaus (AM). Em terreno desnivelado, atrás de um campo de futebol e à beira da mata, foi enterrada ali, em covas rasas, a maior parte das 56 vítimas da chacina do Complexo Prisional Anísio Jobim (Compaj), no primeiro dia do ano. O massacre, motivado por briga de facções, foi o estopim da crise penitenciária que se alastrou pelo Brasil.

As preces de Raimunda são cortadas pelas repreensões de Fátima ao filho caçula. Kauã tinha pouco mais de 1 ano quando seu irmão, Renato, então com 18, saiu com duas amigas, menores de idade, em uma moto. Eram 9h30 de 11 de setembro de 2012. Armado com um revólver, ele desceu da moto, em rua movimentada do Bairro São José, na Região Leste, e rendeu o taxista José Carlos Crespo de Assunção, que, ao reagir, foi baleado no pescoço.

Renato confessou o crime. O taxista morreu uma semana depois. O garoto, que havia acabado de completar a maioridade, foi condenado a 20 anos de prisão, mas, como era réu primário, havia a expectativa de ir para o semiaberto em maio deste ano. Em 1º de janeiro, foi assassinado.

Quando olho para meus filhos dentro de casa, não acredito no que aconteceu. Aí vou para o celular, olho as fotos e começo a chorar”, conta Fátima, mãe de cinco filhos. “O Kauã, era o único que visitava o Renato, então, sentiu mais. Ontem mesmo ele disse: ‘Mãe, eu queria saber onde meu irmão está, mataram meu irmão’. Ele fica com isso na cabeça


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