terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Game de produção nacional coloca mulher negra e nordestina como heroína


Talvez a pergunta mais frequente dos consumidores de jogos eletrônicos ultimamente seja onde é que atira mesmo?. Num mercado controlado pelas franquias de jogos de tiro e afins, surge na contramão da voga dessa indústria o game de origem baiana, Árida.
O objetivo do jogo é divertir, como se espera, mas também educar, conscientizar e desconstruir esteriótipos junto aos seus jogadores, servindo à comunidade como uma plataforma de reconhecimento identitário.
Mergulhado no universo nordestino e no contexto do sertão em plena Guerra de Canudos durante o século XIX, o jogo mistura aventura com elementos de sobrevivência e exploração. Árida conta a história da jovem Cícera, que busca ajudar os sertanejos a superar a seca.
Para Filipe Pereira, diretor-geral da Aoca (empresa responsável pelo desenvolvimento da obra) e game designer é um desafio sair dos velhos clichês dos jogos desenvolvidos no Brasil e no mundo. Todos os componentes que estão no nosso jogo colocam a gente num percentual bastante diminuído pela indústria, não só pelo local do sertão, mas também pelo viés mais social. Sem falar do protagonismo de uma personagem mulher, negra e nordestina, o que não vemos nos outros jogos, afirmou.
A intenção inicial dos criadores do jogo era ambientar a história na região de Canudos, interior da Bahia, durante o confronto armado entre o Exército da recém-proclamada República (1891) e os integrantes do mítico movimento popular liderado por Antônio Conselheiro (1830-1897).
No entanto, após diversas pesquisas e sondagens, que se estenderam por meses, os desenvolvedores decidiram tomar outro rumo, agregando diferentes simbolismos advindos de outras regiões do sertão nordestino com o apoio de historiadores e especialistas da Uneb – Universidade do Estado da Bahia.
A gente fez a pesquisa em campo após seis meses de projeto, em Canudos e região, o que foi muito bom. Nós validamos caminhos que já tínhamos traçado. Uma coisa curiosa é que lá encontramos personagens como retratávamos já no game. É algo que vai de encontro com vários paradigmas que a gente tem na nossa história, como não conseguir se organizar socialmente, com um viés de resistência e utopia. Canudos, guardados as devidas proporções, é o socialismo na prática.


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